Os profissionais devem dar
limites ao sucesso?
Por Patrícia Bispo para o RH.com.br
Já escutei várias
versões sobre o entendimento do sucesso e cada pessoa que a conceitua ou tenta,
apresenta sempre uma peculiaridade a esse conceito. Para alguns, o sucesso apresenta-se
em uma conta bancária robusta. Para outros, status diante da sociedade.
No ambiente organizacional, pode
ser compreendido como uma promoção a um cargo de direção. Seja qual for o
conceito ou compreensão dada ao sucesso, as pessoas que o buscam têm algo em
comum: abdicam de várias coisa que adoram fazer até chegar a onde desejam.
A questão seria até simples, se
os indivíduos conseguissem tornar a conquista do sucesso em uma
"jornada" sempre saudável. Contudo, alguns optam por escolham que ao
término do "caminho" cobra um preço, por vezes, alto demais:
afastamento das pessoas mais queridas, isolamento e até mesmo prejuízos à saúde
física e mental.
Para falar sobre este assunto, o
RH.com.br entrevistou Irlei Wiesel, coach, especialista em educação corporativa
e escritora. Recentemente, ela lançou o livro "Quando a Saúde Adoece -
Cuide-se antes que você adoeça", Imprensa Livre, que traz em seu conteúdo
a questão do equilíbrio entre a vida pessoal e profissional, e que destaca a
importância se dar um novo significado aos valores, identificar as causas e as
possíveis soluções para as pessoas que se deixam absorver completamente por
projetos que as consomem.
"O mercado está conseguindo
explorar a capacidade técnica dos profissionais, exigindo deles o melhor e o
custo disso é o aumento de pessoas infelizes, levando uma vida sem significado,
vazia e perdida", alerta a especialista.
Durante a entrevista Irlei Wiesel
apresenta reflexões que podem ajudá-lo a refletir sobre a postura que você tem
adotado em relação à sua carreira e até que ponto ela está sendo saudável ou
não. Tenha uma agradável leitura!
RH.com.br - Sempre ouvimos as pessoas comentarem que desejam
alcançar o sucesso. Isso já se tornou uma obsessão no universo organizacional?
Irlei Wiesel - Sim, a busca pelo sucesso é uma obsessão do
contrário seria uma busca livre, natural e saudável. Temos duas formas de
obsessão. A primeira é a auto-obsessão que é a exigência exagerada que impomos
a nós mesmos e a segunda é obsessão no ambiente de trabalho ou social em que
somos obrigados e cobrados a demonstrar habilidades e estrelismo que insinuam
um determinado poder e capacidade acima da média. Infelizmente é uma obsessão
desleal, pois fere a pessoa por desconsiderar o valor humano e privilegiar a
aparência. Precisamos aparentar sucesso para vender uma imagem comprável. Ser
feliz ou não, não é a propriedade nesta obsessão.
RH - O que tem contribuído para que as pessoas se sacrifiquem tanto
pelo sucesso?
Irlei Wiesel - O foco ilusório é um dos motivos. Se aposta no
interesse comercial da imagem pública e, também pessoal. Vende-se uma imagem
comprável. Não é necessário que a imagem que está à venda seja feliz, o que
importa é que esteja disposta a sacrificar a essência pelo sucesso. Desta
forma, a pessoa distancia-se de forma cruel daquilo que sonhava ser e ter
quando criança. Na obsessão a inocência e a pureza dão lugar à aparência. Por
isso, o foco é ilusório. É quando surge a mentira motivada pela aparência. Este
movimento não pode ser mais vazio.
RH - A busca desmedida pelo sucesso passa pela perda de valores?
Irlei Wiesel - Sim, porque se aprende rapidamente a enterrar a
alma. Com isso, a probabilidade de se focar cegamente é inevitável. O mercado
está conseguindo explorar a capacidade técnica dos profissionais exigindo deles
o melhor e o custo disso é o aumento de pessoas infelizes, levando uma vida sem
significado, vazia e perdida. A pessoa se esquece da alma no caminho do sucesso
A dor avança mesmo quando tentamos sufocá-la com as conquistas advindas pelos
louros do sucesso.
RH - Nesse percurso, na busca pelo sucesso, o preço a ser pago
sempre impacta mais no campo orgânico ou emocional do indivíduo?
Irlei Wiesel - Impacta porque somos seres espirituais vivendo
experiências humanas. Seres espirituais possuem necessidades especiais. É
necessário abrir espaço para o afeto, a colaboração, o entusiasmo, o bem
querer, a ternura, o elogio, o abraço, o carinho e muito mais. Porém no mundo
do sucesso a qualquer preço o espaço é dado à competição, ao individualismo, à
arrogância, à ansiedade, à correria, às metas exageradas.
E pergunto: estamos correndo para
onde?
Não encontrarmos significado no
que fazemos por isso e, então, definhamos. Inconscientemente desejamos morrer
para podermos ser novamente o que somos na essência. Por isso, adoecer é a
resposta que o organismo apresenta para que acordemos. Os sentimentos são a
base da nossa trajetória e na busca pelo sucesso indiscriminado eles são
abafados. E, sabemos que a matéria, os objetos, os títulos, as conquistas externas
são incapaz de silenciar nossa ânsia de entender nossa tristeza, dor, medo,
insegurança, depressão, rancor e ódio.
RH - Qual o perfil dos profissionais que geralmente têm a saúde
prejudicada em favor do sucesso?
Irlei Wiesel - Diria que são todas aquelas pessoas que decidem
correr sem carregar-se consigo. RH - Quando a saúde é abalada, o desempenho cai
rapidamente ou isso dependerá de cada caso? Irlei Wiesel - Depende de cada
caso, mas no geral quando o desempenho é afetado o desespero aparece. Fica impossível
sobreviver e disfarçá-lo. O sucesso da aparência é desconstruído rapidamente e
o fundo do poço começa a ser avistado. Sabemos que lá não há companhias que
possam alavancar a carreira. Por isso, cair tão fundo provoca reações
espontâneas que diferem de cada pessoa.
RH - O corpo costuma apresentar sinais claros que a busca pelo
sucesso está sendo nocivo à saúde?
Irlei Wiesel - Sim. Esses sinais se revelam através do cansaço, da
ansiedade, do pânico, da raiva, da insônia, de falar ou mesmo calar exageradamente,
entre outros. Podem surgir, ainda, doenças como: úlcera, ataques cardíacos,
derrames, elevação das taxas aumentadas.
RH - Quando esses sinais são externados pelo corpo, o que se deve
fazer?
Irlei Wiesel - Parar, aceitar, respeitar seus próprios limites. A
pessoas deve se perguntar diariamente: "O que devo fazer?". A
resposta virá.
RH - Se por um lado há quem se sacrifique ao extremo para alcançar
o sucesso, há as empresas que investem na melhoria da qualidade de vida dos
talentos. Essas ações têm surtido efeitos expressivos na vida das pessoas?
Irlei Wiesel - Sim, de fato é incrível este movimento contrário ao
estabelecido como verdade absoluta. Defendo o incentivo pela busca do talento.
Insisto que este trabalho deve começar na escola, junto às séries iniciais. As
empresas que priorizam a alma, o coração, a espiritualidade, o talento e a
criativas estão auxiliando os colaboradores a cuidarem-se antes que adoeçam e
isso eu falo em um dos meus livros.
RH - Por falar em livros, recentemente, a senhora lançou mais uma
obra "Quando a Saúde Adoece - Cuide-se antes que você adoeça" e que
aborda a relação saúde-trabalho. Que ações profiláticas o profissional pode
adotar para alcançar o sucesso e preservar a saúde?
Irlei Wiesel - Poderíamos destacar como ações preventivas: manter
um olho no mercado e o outro no coração; respeitar o desconforto causado por
uma escolha; desconfiar do marketing e do que a maioria busca; entender que a
calma e a quietude é sinal positivo; dizer não aos outros e sim a si mesmo; buscar
ferramentas que aprimorem o autoconhecimento; investir pesado no equilíbrio das
emoções; fugir da falsidade do culto à aparência; desenvolver um senso crítico
não para julgar, mas para observar; aprender a riqueza e o luxo da paciência;
procurar espaços que ofereçam a oportunidade de desenvolvimento do sucesso da
alma; agradecer e valorizar o que já se conquistou; reconhecer que a vida tem
um propósito maior para nós e que vai muito além da aparência.
RH - A senhora também faz uma abordagem interessante ao destacar
que a alma também adoece. O que isso significa?
Irlei
Wiesel -
É quando mentimos que estamos felizes, nos iludimos que estamos fazendo da
nossa vida o que acordamos ao nascermos para ela, é quando obstruímos as
estradas, pontes e ruelas que nos ligam à agenda pessoal. A alma não aguenta
tanta ingratidão e cinismo. Ela não interfere nas escolhas erradas e ilusórias
que fazemos. O que ela pode fazer é adoecer para ver se acordamos. É duro
abandonar quem nos acompanha com um fim tão nobre. A alma é nossa bússola neste
mundo com motivações tão sedutoras